Opinião
O homem não é uma ilha ou a negação da natureza humana
Um aspecto interessante de nossa sociedade explica a implicação negativa da solidão.
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Ayla CedrazDeito meu braço sobre a janela do ônibus e fecho os olhos. O sol das 5, através da janela fumê, toma um tom avermelhado sonolento, longo, que me traz, com uma viagem pela frente, o sentimento que me faz agora escrever. Há outros no ônibus. Há também, nos carros que correm, outras pessoas. E há, de onde saio e para onde vou, quem me espere. Nada disso impede que eu me sinta, nessa hora, sozinha.
Semana passada vi um pequeno documentário que contava a história de uma mulher que trabalha como uma espécie de zeladora em um hotel durante o inverno, época em que fica fechado. O hotel localiza-se em uma ilha erma, um tanto afastada da costa da Nova Inglaterra. Ela conta que se trata de uma experiência essencial para a sua existência, a de manter-se afastada de todo o resto do mundo, especialmente das pessoas. Na ilha, conta, o ritmo dos dias é diferente, e a relação dela com o espaço se dá de um modo profundo, impossível na civilização em que vive, quando no continente.
O documentário usa um aspecto interessante de nossa sociedade para explicar a implicação negativa da solidão. Se fosse um estado positivo, não existiriam os sistemas penitenciários do modo que existem. O criminoso leva como punição o isolamento da sociedade; e, mais do que isso, quando um presidiário se comporta mal, ele é levado para a solitária.
“Solitude” passou a ser um termo usado para se referir a necessidade das pessoas de seus momentos de privacidade, como uma forma positiva de recarregar-se; ao contrário de “solidão”, não seria um período de sofrimento. Parece-me que o primeiro é um estado voluntário, e o segundo não. Se isso é real, a mulher do documentário, então, necessita de solitude. Isso, até certo ponto, parece adequar-se também às minhas necessidades. Sinto com pouquíssimas pessoas a sensação de conforto que estar sozinha me proporciona; mas isso não significa que eu não gostaria que fosse diferente. Onde, então, a solitude termina e a solidão começa?
Ayla Cedraz estuda Letras Vernáculas e Inglês na Universidade Federal da Bahia. Escreve às segundas, a cada três semanas. jornalismo@destaque1.com
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